sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Entrevista com Psicólogo Eduardo Alencar sobre a atuação do analista do comportamento no âmbito organziacional



O que é a Analise doCoopervolks: Comportamento?
Eduardo Alencar: A psicologia enquanto ciência do comportamento humano apresenta várias abordagens sobre como entender o seu objeto de estudo: O Homem. Entre elas estão a psicanálise de Freud focando o estudo dos aparelhos psíquicos, a fenomenologia de Hussel com o estudo do homem em sua totalidade dita e compreendida como "ser-no-mundo" e a análise do comportamento de Skinner que traz uma nova e diferenciada concepção de comportamento.



Coopervolks: O que é comportamento para esta vertente teórica?
Eduardo Alencar: O comportamento para análise do comportamento é tido como a relação entre o que um sujeito faz, em que momento ele faz, qual a conseqüência de sua ação no ambiente e como esta conseqüência afeta o seu próprio comportamento. Diferente do que estamos acostumados, pois no senso comum e em muitas abordagens teóricas da psicologia, o comportamento é tido apenas como "ação", ou seja, tudo aquilo que o homem faz. Para nós analistas do comportamento a ação nada mais é do que o conceito de "resposta", uma unidade conceitual, uma parte das diferentes contingências, uma ferramenta utilizada para estudo dos vários tipos de comportamento.



Coopervolks: Que tipos de comportamentos existem?

Eduardo Alencar: Antes de responder a sua pergunta, quero dizer que o comportamento para esta abordagem é multideterminado pelos 3 níveis variantes de seleção do comportamento: filogenético (que diz respeito a características de uma determinada espécie), ontogenético (que diz respeito a gama de história, experiências, vivências únicas e exclusivas para um determinado sujeito) e culturais (que dizem respeito aos comportamentos de um determinado grupo social). Didaticamente, os tipos de comportamentos estão subdivididos em operantes (unidade para o estudo ontogenético), verbal (unidade para estudo ontogenético e cultural) e respondentes (undiade para estudo filogenético). Operantes são aqueles comportamentos apreendidos, por exemplo, digitar, dançar, vender, jogar, etc. Já os respondentes são os comportamentos que nos acompanham pela espécie, respirar, fazer sexo, reproduzir-se, beber água, etc. E por fim, o verbal que engloba não apelas o falar propriamente dito, mas as diferentes formas de se comunicar.



Coopervolks: Me parece que operantes e verbais são o foco dos comportamentos observados em recrutamento e seleção, você pode descrever estas unidades de análise?
Eduardo Alencar: Em seleção por competência, profissionais de RH estudam o comportamento através do CAR (Contexto – Ação – Resultado), a tríplice contingência estuda o comportamento através do ARC (Antecedente – Resposta – Consequência), neste sentido elas são bem parecidas na medida em que a premissa é acreditar que comportamentos do passado que foram adequados às suas conseqüências tendem em termos de probabilidade, repetir-se no futuro. Já o verbal quando objeto de estudo de outros profissionais restringe-se ao falar ou aqueles manuais de "o corpo fala". O verbal é algo infinito que nem a própria análise do comportamento possui segurança para andar em alguns campos. Skinner quando lançou o verbal behavior sintetizou comportamentos verbais que aplicam-se desde o autismo, conduta de mentir, relatar experiências passadas até o mais diferente que possamos pensar.



Coopervolks: E pensar é um comportamento? Recebemos informações que esta vertente teórica é reducionista, mecanicista e nega eventos de natureza profunda.
Eduardo Alencar: Sim, pensamento é um comportamento de classificação "encoberta". Damos este nome apenas pois o acesso a ele se dá única e exclusivamente pelo próprio sujeito. Quanto a estas críticas, penso que ocorram pela errônea interpretação dos profissionais (inclusive dos próprios psicólogos) acerca da análise do comportamento. Watson, pioneiro do behaviorismo metodológico (que negava realmente estes eventos) foi quem inspirou Skinner a criar o behaviorismo radical (filosofia que hoje embasa a análise do comportamento) e de maneira alguma negamos pensamentos ou sentimentos. Por fim, quanto ao acesso ou tratamento de "coisas profundas", nós tratamos de ambos como um comportamento, penso que esta critica seja apenas por que negamos à qualquer instância psíquica algum tipo de status diferenciado sobre o comportamento. Pode-se dizer na brincadeira que nossas determinantes psíquicas seriam os 3 níveis de determinação do comportamento (risos). Por isso somos radicais, não pela negação de algum tipo de comportamento, mas no sentido de negar à instâncias psíquicas a determinação sobre os comportamentos públicos. Ambos estão interligados (pensamentos e comportamentos públicos), ambos são frutos da história de vida do homem e de suas relações com o mundo e do impacto destas relações sobre ele mesmo.



Coopervolks: E como tudo isso pode ser aplicado à pratica do psicólogo nas organizações?
Eduardo Alencar:
Bom, para começar, "organizações" não limita-se ao RH. O psicólogo pode atuar com o marketing, com a responsabilidade social, com a gestão do conhecimento e afins. Como minha prática é voltada ao RH, vou responder a sua pergunta através da mesma ok? A partir do momento que abandonamos a idéia de que comportamento não é o recorte das ações do homem e sim um conjunto ligado a isso (Antecedente – Resposta – Conseqüência) nós ampliamos o repertório do profissional no que diz respeito a: seleção e treinamento de pessoal (passamos a compreender suas habilidades, identificamos necessidades de treinamento, ganhamos melhor ferramenta para previsão de comportamentos futuros, temos acesso a possíveis motivadores, etc), na área de cargos e salários, mesmo que o foco seja a descrição topográfica do que os sujeitos farão ao ocupar cada cargo ou de que forma serão remunerados (consequenciados) por isso, ganhamos melhor ferramenta para previsão de como o sujeito irá agir, do que precisa ser modificado para sua motivação, aumento de produtividade, etc. Em medicina e segurança do trabalho e endomarketing o comportamento verbal facilita as relações de aprendizado, prevenção de acidentes, etc. Poderíamos falar disso o dia todo.



Coopervolks: O que você indica para aqueles que querem saber um pouco mais desta prática diferenciada de analisar comportamento em organizações?
Eduardo Alencar:
Bom, quem almeja avançar pela porta dos estudos, indico o núcleo paradigma (http://www.nucleoparadigma.com.br)/, instituição de ensino em pós graduação e extensão universitária em análise do comportamento. Já quem almeja avançar pela leitura, indico artigos nos portais: http://www.redepsi.com.br/, http://www.administradores.com.br/, http://www.rh.com.br/ . Já quem tem facilidade para fazer analogias entre a teoria comportamental e a prática, indico o coerção do Sidman e o ciência e comportamento humano de Skinner (livros básicos e de cabeceira do psicólogo analista do comportamento).

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