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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Informatização chega ao recursos humanos das empresas
Da Redação - Correio Braziliense
16/09/2009 09:57
Mais livre, setor foca em questões estratégicas, como retenção de talentos.
Uma relação entre funcionários e chefes sem intermediários e com mais agilidade em procedimentos de rotina, como a reserva da sala de reunião ou a distribuição dos contracheques. Esse é o principal efeito da informatização do setor de recursos humanos, segundo Roberto Ferreira Lima Silva. Para o oficial administrativo do Banco Mundial em Brasília, o e-RH, ainda incipiente no Brasil, fará com que o setor de pessoal de uma empresa passe a desempenhar, finalmente, sua função principal e original: gerir o capital humano.
A equipe do Correio conversou com Roberto Silva, autor do livro E-RH em um ambiente global e multicultural, para entender melhor o que muda nessa relação. Segundo ele, em nome da produtividade, a prática deve ser adotada por todo o tipo de empresa. Os benefícios também chegam aos funcionários, que poderão, por exemplo, ter acesso a informações sobre oportunidades de ascensão.
Tempos modernos para o RH
O que é o e-RH?
O recursos humanos eletrônico é o sistema de RH de uma empresa em parceria com o pessoal da área de tecnologia de informação (TI) e de gestão de conhecimento. Eles trabalham para promover uma interação entre os gerentes de RH, os supervisores e os funcionários em relação à operacionalização da empresa. Ele implica trabalhar com o ambiente web. Significa informar os funcionários das políticas da empresa e agir de forma aberta em todas as áreas. A gestão de conhecimento entra aí para disponibilizar tudo isso aos funcionários e a TI prepara os softwares ou adaptações tecnológicas.
Trata-se de algo novo?
O e-RH já tem pelo menos cinco anos nos países de línguas inglesa e francesa. O que acontece é que antes o assunto era tratado no nível acadêmico, não no nível prático. Hoje, o RH deve trabalhar na alta gerência, vendo estratégias de contratação para alcançar os objetivos da empresa e não apenas carimbando e preenchendo formulários.
Já é uma forma de trabalho concreta no Brasil?
Sim, mas ainda há empresas com nada informatizado. Estamos em um processo de transição. As que já desenvolveram estão investindo mais gradativamente, estão automatizando, além do RH, os serviços internos, desde os pedidos para o coffee break até o agendamento de salas e equipamentos para evitar choque de horário.
Quanto o empresário pode economizar em tempo com essa informatização?
Um exemplo que eu trago é o da preparação de propostas de apólices de seguro. Antes, demoravam-se 33 dias para se fazer uma. Hoje, são cinco dias. E a quantidade de pessoas envolvidas era três a quatro vezes maior. A lucratividade em tempo ou em dinheiro — depende do investimento da empresa — pode variar de 30% a 35% com a implantação de tecnologias.
A ideia do e-RH é substituir a mão de obra humana?
Não, porque a empresa precisará de pessoas atuando nisso. Não tem como substituí-las. A diferença é que antes era um profissional do RH colocando os dados dos trabalhadores em planilhas enormes, gastando muito tempo. Agora, essa responsabilidade foi transferida para o próprio funcionário, criando os chamados sistemas self-services. Ele é que atualiza o sistema com seus dados e renova seu currículo interno. E isso de fato já acontece em muitas empresas.
O que muda para o profissional de RH?
Ele passa a desenvolver novas habilidades. Uma delas é saber motivar os funcionários, fazer com que eles queiram atuar nesse processo. O principal benefício do e-RH é colocar esse profissional de recursos humanos trabalhando de fato na gestão de pessoas, em vez de gastar seu tempo fazendo um trabalho manual. Ele consegue otimizar o tempo e destiná-lo ao trabalho que deveria ser desempenhado pelo RH, que é gerir o capital mais importante da empresa, as pessoas.
Como fica a relação de proximidade entre o RH e os funcionários?
Ela acaba. Esse contato é transferido para o supervisor. O funcionário trata diretamente com seu chefe, sem intermediações do RH. Ele (o profissional de RH) serve apenas como um consultor interno, dando ferramentas para essa interação. O chefe é que tem a responsabilidade de zelar pela produção, capacitação e desempenho de sua equipe. Porque não faz sentido prestar contas para o RH. Isso tem que ser feito com seu chefe direto, que é quem acompanha seu trabalho.
Como os empregados veem a mudança dessa relação?
Essa nova interação se torna normal. Eles não se mostram relutantes porque acabam recebendo um feedback maior, que o RH talvez não poderia fornecer.
Como o RH trabalha hoje?
O trabalho do RH tem sido paternalista, como se eles fossem babás dos funcionários. Tudo que não dá certo manda para o RH. Isso é uma transferência de responsabilidade. Podemos comparar com os pais que cobram da escola as aulas de sexologia para não terem que orientar os filhos, sendo que a responsabilidade é deles em primeiro lugar. Muitos RHs hoje não têm tempo para se preocupar com o que deveriam, que seriam as contratações e capacitações, as fontes de recursos para isso e tudo que envolve o foco nas estratégias da organização.
Quais seriam os passos para uma empresa que quer começar esse processo de informatização?
Um bom passo inicial seria procurar se informar sobre quais são os provedores desse tipo de serviço. Como o investimento é alto, para as menores, é mais interessante comprar as soluções prontas. Adquirir os softwares isolados, que não são baratos, só é recomendado se a empresa for maior, pois implica mais conhecimento na área e uma equipe maior. Uma vez instalado o software, vem a fase de treinamento e acompanhamento. O essencial é a empresa conseguir passar essa nova cultura organizacional de forma que não haja rejeição. Mas vale lembrar que a instituição precisa estar ao menos adaptada à era digital para que o trabalho não tenha que começar do zero. Quanto mais rápida essa automatização, menos traumas. Depois de iniciado esse processo, não há volta. A empresa terá que seguir informatizada.
Não basta ter um RH organizado? Ele tem que ser digital?
Não, porque isso não permite uma continuidade dos negócios, não permite integração. E não é só o RH, mas a empresa inteira. Pode até ser que se mantenha, mas vai enfraquecendo. O preço do serviço passa a ficar muito caro se não houver essa automatização, o que não lhe dá condições de concorrer no mercado.
O que deu certo da sua experiência com o e-RH no Banco Mundial?
Esses sistemas de informação aumentaram a transparência nos processos, bem como as relações interpessoais entre o funcionário, seus colegas e supervisores. O trabalho do dia a dia continuou igual, só que agora com mais tecnologia. A resolução de conflitos também fica mais fácil, porque o profissional de RH tem mais condições de mediar o problema. Os trabalhadores têm acesso a tudo por meio do portal coorporativo dos funcionários. Um exemplo disso é manter, no site, informações sobre os perfis de posições que um funcionário deseja ascender dentro da empresa. Ali, ele descobre as qualificações mínimas para aquela área, os cursos que ele precisaria fazer, enfim, ele não depende de ninguém, pode ir atrás dessas informações quando quiser.
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